Lembrar de: Falar sobre Prevenção do Suicídio sem focar na culpa como argumento
- Daniel Carvalho | Psicólogo Clínico
- 10 de fev. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 29 de jun. de 2023
A inspiração para este texto partiu de um importante dado. Segundo a OMS, 90% dos suicídios são preveníveis quando tratamos previamente os transtornos associados a eles. Este é um dado importante, pois nos mostra que há um caminho possível, mas se mal interpretado (e utilizado) pode trazer mais malefícios do que ganhos.
Digo isso, pois nossa cultura se organiza de forma individualizante e isso se reflete no luto por suicídio que é comumente marcado por um sentimento constante de culpa, pouco apoio social e pensamentos constantes de “eu poderia ter evitado”. Imagine então, como fica um sobrevivente quando ao falar sobre prevenção, praticamente apontamos o dedo para ele e dizemos que ele falhou, já que todo e qualquer suicídio é evitável?
A questão aqui não é dizer que não se dá para prevenir, mas sim que precisamos parar de alimentar uma cultura que elege a culpa como guia e tem vício de apontar culpados. Ninguém sozinho consegue prevenir um suicídio e muito menos deveria ser obrigado a tentar, pois essa é uma tarefa exaustiva e praticamente impossível para uma só pessoa.
Isto pois, muitas vezes nos negamos a acreditar que uma pessoa querida pode estar “querendo” morrer, visto que para a gente, tal ideia é impensável. Algumas vezes os sinais estão ali, mas não são claros o suficiente para ultrapassar nosso filtro emocional. Outras vezes estamos em uma rotina tão corrida que mal enxergamos nosso próprio sofrimento. E, às vezes, até fazemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas no fim, a decisão final não coube a nós.
É por isso que a prevenção é uma tarefa social e que deve ser pensada em uma perspectiva coletiva. Digo isso, pois a prevenção não deve se focar apenas nas ações de uma família ou de amigos tentando “apagar incêndios”. Para uma real prevenção é preciso que: haja o rompimento do estigma em relação ao suicídio e transtornos, fazendo com que as pessoas se sintam seguras para procurar auxílio; um maior compartilhamento de informação sobre sinais e formas de ajudar; a reinvindicação para que os serviços de saúde mental sejam ampliados e que o acesso a direitos fundamentais (como trabalho, lazer, moradia, vida em comunidade e afins) sejam garantidos, etc.
Você até pode fazer o máximo para ajudar, mas no fim, essa é uma tarefa que não é só sua.
Daniel Johnson Carvalho Costa - Psicólogo (CRP 11/18528)
Comments