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Raya e o Último Dragão — Uma análise sobre confiança interpessoal

Atualizado: 29 de jun. de 2023

A menos que você tenha o poder de gerar clones e dar a eles todas as habilidades conhecidas no mundo, você já precisou confiar em alguém, seja em uma situação de pouco ou muito risco.

Neste texto discuto, a partir do filme, um pouco sobre como as experiências com outras pessoas influenciam no nosso comportamento de confiar e desconfiar. Segue o fio…

Você já deve estar com cansaço de saber, mas somos seres sociais. Por isso, o comportamento de confiar foi e é essencial para nossa sobrevivência enquanto espécie e sociedade.

Nosso comportamento de confiar em outra pessoa é modelado desde muito cedo, afinal, enquanto crianças precisamos do auxílio de cuidadores para garantir nossa sobrevivência.

Entretanto, a confiança interpessoal é um ato arriscado, visto que nos coloca em uma posição de vulnerabilidade. Ou seja, quando confio em alguém eu me exponho tanto às possíveis consequências “boas” quanto “ruins”.

Exemplificando pelo filme:

Raya, ainda criança, aprendeu em suas interações sociais, a partir da contação de histórias do povo de Coração que não se deve confiar nos outros povos. No entanto, seu pai na tentativa de restabelecer Kumandra a convence a baixar sua guarda, já que alguém tinha que tomar o primeiro passo.

No entanto, quando Raya segue seu conselho é traída por Namari, o que resulta na morte em massa de seu povo, incluindo seu pai.

Com o avançar dos anos o filme demonstra que as pessoas continuavam a trair a confiança das outras para obter o que desejavam, o que pode explicar porque o comportamento de desconfiança de Raya seguia sendo reforçado.

Por outro lado, diante de situações aversivas, das quais não conseguimos nos esquivar ou fugir, confiar em alguém pode ser a escolha mais viável. Uma das formas de “escolhermos” confiar é perceber se a pessoa compartilha objetivos semelhantes conosco.

No filme, Raya diante da dificuldade que seria conseguir os pedaços da joia sozinha confia a missão e até sua vida a novos integrantes do grupo que desejavam o mesmo que ela: ter suas famílias de volta.

Um outro exemplo emblemático é uma das cenas finais do filme, na qual a única forma de salvar o mundo seria que cada um confiasse sua parte da joia a uma única pessoa: Namari.

Pode-se sugerir que Raya e seus amigos arriscaram sua vida confiando em Namari, após perceber que seu objetivo era similar ao deles: destruir os Drums (estímulo aversivo de alto magnitude) e trazer suas pessoas amadas de volta (fonte de reforçadores de alto significância).

Neste caso, a decisão de Raya de “tomar o primeiro passo” pode ter sido influenciada por diversas vertentes, como:

  • por um modelo: a história de como Sisu e seus irmãos salvaram Kumandra;

  • por controle instrucional: vendo que sua forma de resolver não era eficaz, Raya optou por seguir o conselho de Sisu, uma divindade que já viveu aquela situação;

  • por análise de custos: Sisu e todos os outros já estavam mortos. Sendo assim, eles podiam seguir lutando separados e morrer ou arriscar confiar uns nos outros e possivelmente sobreviverem. A segunda alternativa pesou mais para Raya no momento

  • por valores: a ideia de um possível valor social comum entre eles: “se você poder salvar a todos, você vai escolher salvar a todos e não só o seu povo”.

Observação: lembrando que essas vertentes não ocorrem de forma isolada, mas se interrelacionam.

Por fim, considero que podemos analisar a mensagem do filme em duas escalas:

Em uma escala micro, a ideia de confiança e perdão irrestritos deve ser vista com cuidado. Devemos nos perguntar se quando perdoamos estamos o fazendo apenas porque é socialmente esperado de uma “boa pessoa” ou porque aquele perdão e confiança são realmente saudáveis para nós. Afinal, não podemos esquecer como abusadores tendem a manipular suas vítimas através de valores morais.

Entretanto, é em uma escala macro (social e cultural) que o filme “acerta” na mensagem/quesionamento. Afinal… nós sabemos que a união e solidariedade entre os povos é o que nos fará properar, no entanto, quem vai se arriscar dando o primeiro passo?

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